Higor Vidal, Léo Lelis e Sílvio Júnior contam que precisaram deixar estádio dentro de blindados alvos de torcedores: “Se a gente estivesse de ônibus lá, a gente morria”
Jogadores brasileiros relataram o clima de tensão no clássico entre Arema e Persebaya Surabaya, pela primeira divisão da Indonésia, o qual terminou numa tragédia com 174 mortes confirmadas. Atletas do time visitante, Higor Vidal, Léo Lelis e Sílvio Júnior contaram ao ge que tiveram de sair rapidamente de campo diante da invasão dos torcedores e ainda tiveram dificuldades para deixar o estádio, mesmo dentro de veículos blindados.
– No vestiário, comemoramos a vitória, mas a polícia veio e disse: “Não, não… corre, senão a gente não sai”. Aí já começamos a trocar de roupa todo mundo rápido, sem tomar banho mesmo e a polícia nos apressando. Aquela correria, loucura… aí conseguimos sair correndo, entrar no blindado e ficar esperando – contou Sílvio Júnior.
– Ficamos umas duas horas ali ainda vendo aquela cena. Era surreal. Eu passei pelo Azerbaijão na época da guerra com a Armênia e eu não vi as coisas que eu vi ali. Nós olhávamos pelo vidro da frente do blindado. Parecia cenário de guerra mesmo. Eles arremessando as coisas. Arremessaram alguma coisa que trincou o vidro do blindado. Coisa de doido. Maluquice. Eles jogando pedra… acabaram com o carro da polícia. Tinha um carro da polícia do lado da gente. Eles quebraram tudo.
Arema e Persebaya Surabaya fazem o clássico de Java Oriental desde 1992. Essa foi a primeira vitória dos visitantes em mais de duas décadas.
– Tinham me falado do clássico… Eu sou de Curitiba. Eu pensei que seria como um Atletiba, mais ou menos. Mas é muito maior. As pessoas vão lá para dar a vida pelo time mesmo. Então é uma tensão do começo ao fim do jogo – apontou Higor Vidal.– A gente comentou entre os brasileiros que, se a gente estivesse de ônibus lá, a gente morria. Com certeza. Teríamos sido queimados vivos dentro do ônibus. Que loucura! Nem dá para imaginar um negócio desse no Brasil.
Além do trio de brasileiros do Persebaya Surabaya, o confronto ainda contou com a participação do goleiro Maringá pelo lado do Arema.
Com o lamentável episódio, a liga nacional suspendeu as partidas da competição por uma semana. De acordo com comunicado, houve danos significativos ao redor do estádio. A Associação de Futebol da Indonésia iniciará investigação.
A confusão
Informações da imprensa indonésia dão conta de que o tumulto começou porque torcedores invadiram o campo para protestar contra jogadores e funcionários do clube. Foi aí que policiais entraram em ação, e gás lacrimogêneo foi utilizado.
Pessoas que tentavam escapar do gás perderam o controle e acabaram pisoteando outras no local. Existem relatos de que muitos sentiram falta de ar, e que pais se perderam de seus filhos por conta de uma situação de “pânico incontrolável”.
O tumulto, que começou dentro do estádio, seguiu do lado de fora. Dois carros de polícia foram destruídos, um deles queimado. Torcedores também atearam fogo em outras instalações do estádio.
O vice-governador da província de Java Oriental, Emil Dardak, informou ao canal Kompas TV que o balanço da tragédia foi atualizado para 174 mortos.
Fonte: GE