Parafilia é um fetiche que se não tratado pode evoluir para algo perigoso, como doença compulsiva, e pode prejudicar funcionamento do pênis.
Apesar de bizarro, não é difícil encontrar notícias sobre pessoas que, em busca de prazer sexual, decidem inserir objetos estranhos na uretra — neste mês, por exemplo, um idoso teve o pênis amputado depois de um anel de metal ficar preso no interior do seu pênis. Em 2022, um garoto precisou passar por cirurgia para remover um termômetro que acabou chegando à bexiga.
A prática não é das experiências sexuais mais saudáveis, já que os objetos podem obstruir as vias sanguíneas. Segundo o urologista Jessé Lima, do Hospital Santa Marta, em Brasília, os corpos estranhos na uretra podem causar inflamação, hemorragia, infecção, lesão e/ou perfuração da uretra, próstata e bexiga, isquemia (problema na circulação sanguínea) do pênis, disfunção erétil e entortamento do órgão.
Episódios como o do idoso e do garoto são identificados como parafilia. Segundo o psiquiatra Fábio Aurélio Leite, do Hospital Santa Lúcia Norte, em Brasília, no fetiche de comportamento sexual, os indivíduos buscam instrumentos ou objetos que normalmente não são adequados para sentir prazer. “Chega a ser algo bizarro”, diz.
Ele afirma que normalmente as parafilias se iniciam na adolescência, quando as pessoas começam a descobrir o corpo. Podem ser indivíduos tímidos, que passaram por repressão religiosa, cultural ou familiar e/ou não tiveram acesso à educação sexual.
“Como o paciente não consegue facilmente uma relação sexual normal com um parceiro, ele busca um objeto para tentar sentir algum tipo de prazer. O comportamento pode acabar se tornando repetitivo e se transformar realmente em algo compulsivo”, explica Leite. O psiquiatra classifica a parafilia como uma patologia que pode evoluir para um distúrbio compulsivo.
Do ponto de vista mental, Leite recomenda que o indivíduo com parafilia faça psicoterapia, mas afirma que o uso de medicamentos para estabilizar o comportamento e evitar que chegue no ponto compulsivo e perigoso pode ser recomendado. Afinal, é uma violência sexual consigo mesmo, destaca o psiquiatra.
Tratamento físico depende do caso
O urologista Lima explica que, uma vez que o objeto encontra-se preso dentro do órgão, a retirada vai depender do tamanho do item. “Ela pode ser realizada apenas com anestesia local, e é mais comum usar uma câmera e pinça, que são introduzidos na uretra para retirar o artefato”, ilustra.
A amputação tem indicação restrita e é utilizada apenas em casos em que há isquemia. Quando são usados objetos maiores, ou em casos de infecções com formação de abscesso (pus), a oxigenação do tecido pode ser prejudicada, levando a problemas mais sérios no órgão.
Educação sexual
Considerada pelos profissionais como a principal forma de prevenção à parafilia, a educação sexual dá exemplos ao indivíduo do que é uma vida sexual saudável. A educação evita que o tema vire um tabu, permitindo que o assunto seja discutido e os pacientes saibam dos perigos.
“A atividade sexual faz parte da vida do ser humano, mas é sempre muito difícil de lidar por conta de uma série de questões morais, sociais e religiosas. O indivíduo acaba sofrendo influência de uma série de fatores, o que faz com que o prazer se torne algo clandestino e mais exposto ao perigo”, analisa Leite.
O especialista afirma que cabe à escola, às igrejas, à família, aos profissionais de saúde e ao governo esclarecer a vida sexual para evitar que adolescentes fiquem vulneráveis à condição.
Fonte: Metrópoles