Em uma das maiores ações do ano contra o trabalho escravo contemporâneo, o Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou 563 trabalhadores em uma obra da construtora Tao. A operação foi realizada nesta quarta-feira (6) em Porto Alegre do Norte, no estado do Mato Grosso, após denúncias de violações graves às normas trabalhistas e de segurança no trabalho.
Durante a fiscalização, o MPT encontrou trabalhadores vivendo em condições extremamente precárias. Os alojamentos estavam superlotados e mal estruturados, com colchões usados e de baixa qualidade, ausência de roupas de cama e ventilação insuficiente — apenas um ventilador era disponibilizado para cada quatro pessoas. Em diversos casos, os operários dormiam no chão ou até mesmo sob mesas por falta de camas.
No local de trabalho, os fiscais também constataram jornadas excessivas. Segundo o MPT, os empregados eram submetidos ao chamado “sistema cartão 2”, no qual a jornada legal de 8 horas e 48 minutos era constantemente ultrapassada. Alguns relatos indicam turnos de até 22 horas diárias, inclusive em domingos e feriados, sem o devido pagamento de horas extras.
A investigação teve início após um incêndio ocorrido no dia 20 de julho, que destruiu parte dos alojamentos da obra. O incidente expôs a gravidade da situação enfrentada pelos trabalhadores, que atuavam na construção de uma usina de etanol, e motivou a ação emergencial do MPT.
De acordo com os depoimentos colhidos, muitos dos trabalhadores foram aliciados em seus municípios de origem por intermediários que ofereciam vagas na empresa. A viagem até Porto Alegre do Norte era financiada pelos próprios aliciadores, mas os valores eram posteriormente descontados dos salários. Aqueles que não passavam nos exames médicos ou não eram contratados ficavam sem recursos para retornar às suas cidades.
Outro ponto crítico foi a alimentação. Os trabalhadores denunciaram que as refeições fornecidas eram inadequadas, repetitivas e, por vezes, apresentavam larvas, moscas e sinais de deterioração.
O MPT informou que dará continuidade às investigações e poderá acionar judicialmente a construtora Tao e os envolvidos no esquema. O órgão também trabalha para garantir os direitos trabalhistas e o retorno seguro dos trabalhadores aos seus lares. Até o momento, a empresa não se pronunciou sobre o caso.