O Panorama de Resíduos no Brasil 2024, divulgado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), trouxe pela primeira vez um levantamento detalhado sobre o potencial de produção de biometano no país. Este combustível renovável, derivado do processamento de resíduos sólidos urbanos (RSU), é apontado como peça-chave para a descarbonização e a economia circular, especialmente após a sanção da Lei do Combustível do Futuro.
O estudo destaca que, para viabilizar economicamente a produção de biometano, é necessário tratar mais de 640 toneladas diárias de RSU em aterros sanitários. Embora o Brasil conte com 37 municípios que individualmente alcançam essa marca, a maior oportunidade está na união de municípios para centralizar o tratamento de resíduos em Centros de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTRs).
Especialista no tema, o conselheiro da Abrema e presidente da Marquise Ambiental, Hugo Nery, defendeu a viabilidade econômica e ambiental desse modelo, com base no case de sucesso da GNR Fortaleza, no Ceará, fruto de uma parceria entre a Marquise Ambiental e a MDC. A planta, localizada em Caucaia, foi pioneira no Norte e Nordeste na produção de biometano a partir de resíduos urbanos da região metropolitana de Fortaleza.
Além disso, Hugo Nery destaca o potencial do Norte do Brasil, com destaque para Manaus (AM) e municípios vizinhos, onde a Marquise Ambiental está replicando o modelo cearense. Segundo o Panorama, Manaus é um dos municípios com maior potencial para a produção de biometano, dado o volume diário de resíduos gerados.
Contexto e avanços na produção de biometano
A Lei do Combustível do Futuro estabelece metas progressivas de inclusão de biometano no gás natural comercializado no Brasil, começando com 1% em 2026 e alcançando 10% nos anos seguintes. O Panorama estima que o setor de resíduos sólidos no Brasil tenha um potencial de produção de 6,1 milhões de Nm³/dia de biometano, dos quais 7,3% estão concentrados na região Norte.
Hugo Nery também defende a produção de biometano como impacto positivo na matriz energética nacional, gerando créditos ambientais e impulsionando a economia tecnológica e sustentável.