A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) consiste na utilização diária de uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina), que apresentam composição similar aos utilizados no tratamento do HIV, que reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao vírus.
Além dos remédios de ingestão por via oral, a PrEP também pode ser realizada a partir de um medicamento injetável, chamado cabotegravir, aprovado neste mês pela Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso no Brasil.
A estratégia compõe a chamada prevenção combinada, que busca atender às necessidades e contextos individuais, de modo a evitar novas infecções pelo HIV, sífilis, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). De acordo com o conceito, a estratégia de prevenção pode ser mais eficaz quando adotada com base nas características específicas do momento de vida de cada pessoa.
As recomendações incluem o uso dos preservativos masculino e feminino, profilaxias contra o HIV, como a PrEP, a prevenção da transmissão da mãe para o bebê durante a gestação, a testagem regular, diagnóstico e tratamento precoce das infecções, além da imunização para HPV e hepatite B, e adesão aos programas de redução de danos para usuários de álcool e drogas.
O que é a PrEP?
A PrEP, ou Profilaxia Pré-Exposição, é uma das formas de se prevenir o contágio pelo HIV. A medida consiste em tomar comprimidos antes da relação sexual, que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o vírus.
“A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV vem se tornando uma alternativa terapêutica eficaz para prevenir novos casos e garantir uma vida sexual mais saudável, combinada a práticas sexuais mais seguras. Mais de 500 farmácias já disponibilizam o método, que, somado à presença no SUS, representa uma grande via de acesso em favor da prevenção”, pontua Cynthia Júlia Batista, especialista da farmacêutica Blanver e membro do Comitê de especialistas em Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.
Além disso, a pessoa em PrEP realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o HIV e outras ISTs. A testagem regular e investigação de sinais e sintomas para outras ISTs permite o diagnóstico e tratamento oportuno, interrompendo a cadeia de transmissão.
Segundo o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Gustavo Magalhães, a periodicidade da testagem pode variar entre três meses e uma vez ao ano, conforme a atividade sexual de cada pessoa.
“A prevenção do HIV e das outras ISTs passa por um conjunto de ações, não é somente o uso do preservativo que também é muito importante. Se fizermos a testagem com frequência, principalmente de pessoas com risco elevado, conseguimos detectar mais rápido a infecção, começamos o tratamento e interrompemos a transmissão”, afirmou Gustavo.
Como a PrEP funciona?
A PrEP é a combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam as vias que o HIV usa para infectar o organismo humano. Nesse contexto, existem duas modalidades indicadas: a PrEP diária e a PrEP sob demanda.
PrEP diária: consiste na tomada diária dos comprimidos, de forma contínua, indicada para qualquer pessoa em situação de vulnerabilidade ao HIV.
PrEP sob demanda: consiste na tomada da PrEP somente quando a pessoa tiver uma possível exposição de risco ao HIV. Deve ser utilizada com o uso de dois comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual, + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose.
Segundo o Ministério da Saúde, a PrEP sob demanda é indicada para pessoas que tenham habitualmente relação sexual com frequência menor do que duas vezes por semana e consigam planejar quando a relação sexual irá ocorrer.
Além disso, as evidências científicas garantem a segurança e eficácia da PrEP sob demanda somente para algumas populações. São elas: homens cisgêneros heterossexuais, bissexuais, gays e outros homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH), pessoas não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer, e travestis e mulheres transexuais – que não estejam em uso de hormônios à base de estradiol.
O ministério alerta que a PrEP só tem efeito protetor se o medicamento for utilizado conforme a orientação de um profissional de saúde. Caso contrário, pode não haver concentração suficiente das substâncias ativas na corrente sanguínea, o que não poderá bloquear o vírus.
Em quanto tempo a PrEP começa a fazer efeito?
O ministério orienta que mulheres cisgênero, pessoas trans ou não binárias designadas como sexo feminino ao nascer, e qualquer pessoa em uso de hormônio a base de estradiol, que façam uso de PrEP oral diária, devem tomar o medicamento por pelo menos sete dias para atingir níveis de proteção ideais. Assim, antes dos sete dias iniciais de introdução da PrEP, devem ser adotadas medidas adicionais de prevenção.
Homens cisgêneros, pessoas não binárias designadas como do sexo masculino ao nascer, e travestis e mulheres transexuais — que não estejam em uso de hormônios à base de estradiol — e que usem PrEP, seja ela diária ou sob demanda, devem tomar uma dose de dois comprimidos de tenofovir associado a entricitabina (TDF/FTC) de 2 a 24 horas antes da relação sexual para alcançar níveis protetores do medicamento no organismo para relações sexuais anais.
Quem pode usar a PrEP?
Especialistas recomendam o uso para pessoas que adotam comportamentos que potencializam os riscos da infecção, o que inclui deixar de usar camisinha de forma frequente, ter relações sexuais sem preservativo com pessoas com HIV que não estejam em tratamento, apresentar ISTs com frequência e fazer uso repetido da Profilaxia Pós-Exposição ao HIV.
A PrEP também é recomendada em contextos de relações sexuais em troca de dinheiro ou objetos de valor e para adeptos à ao “chemsex”, prática sexual sob a influência de drogas psicoativas como metanfetaminas, gama-hidroxibutirato (GHB), MD, cocaína ou poppers.
A indicação para a PrEP deve ser feita por um profissional de saúde, os medicamentos podem ser retirados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acesse a página de consulta aos serviços do Ministério da Saúde.
Fonte: CNN Brasil
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