O celular do carioca Rodrigo Santos, de 30 anos, fica longe do alcance de seus olhos e mãos no cair da tarde de todos os domingos. Enquanto as notificações o esperam, o analista de Recursos Humanos está ocupado com seu compromisso semanal inadiável: a hora do sexo com o marido. “Agendar nossa transa foi a opção que encontramos para manter a vida sexual ativa, porque temos uma rotina de trabalho muito exaustiva”, explica.
Assim como Rodrigo, outras pessoas que vivem atribuladas com obrigações cotidianas, como trabalho e cuidado com filhos, adotaram a prática de marcar no calendário dias e momentos específicos para fazer sexo. Estratégia que, de acordo com a psicóloga e terapeuta de casal Gisele Aleluia, serve para manter vivo o tesão especialmente quando o relacionamento estaciona num platô. “Há um mito de que sexo é uma coisa natural e instintiva. A quantidade de gente que não transa, mesmo casada e namorando, é enorme. Agendar é sinal de que há um interesse em dar prioridade àquela atividade”, explica a profissional.
E quando uma das partes não consegue entrar no clima justamente na hora marcada? “Houve domingos em que não queria, mas me senti na obrigação de transar porque sabia que só teria essa oportunidade na semana seguinte”, revela Rodrigo. Nesses casos, Gisele destaca que “a agenda é só mais um meio de o outro se sentir livre para despertar desejos no parceiro, algo que nem todo mundo sabe fazer e que, por isso, não garante nada.”
Desprendida de expectativas quando o assunto é vida sexual dentro de um relacionamento longo, Mônica Martelli assumiu à ELA, em uma franca entrevista concedida no final do ano passado, que é completamente a favor do agendamento de sexo, revelando ainda o dia da semana mais quente com o namorado. “Se você pensar em mim na sexta-feira, estou transando”, disse a atriz. “As pessoas querem que venha que nem filme da Disney, com amor romântico. Esperam que as relações sejam assim: uma vez por semana recebe flores; do nada, vai pegar um prato e o marido fala: ‘Nossa, amor, que tesão’. Jura, depois de 20 anos de casado? Me poupe, amor.”
Questionar a espontaneidade nas relações íntimas e a pressão social sobre a frequência do sexo entre casais é o foco da pesquisa de Mayumi Sato, diretora do Sexlog, plataforma voltada ao mercado adulto. “Para algumas pessoas, talvez seja mais interessante mesmo programar a transa, trazer certa previsibilidade quando se está dentro de uma rotina. É uma forma de olhar o sexo com mais maturidade, porque ainda há quem acredite na ilusão de que paixão dura para sempre, quando sabemos que o ser humano é incapaz de fazer perdurá-la por mais de dez anos”, observa.
A empresária paulista Jéssica Rua, de 37 anos, atesta que o tesão diminuiu ao longo dos dez anos de casamento, e que, se deixasse o sexo à mercê de um momento tranquilo do dia, “não aconteceria nunca”. “Estou sempre correndo por causa do trabalho, e ele também. Além disso, temos um filho de 4 anos que demanda demais a nossa atenção”, diz a empresária, que, de seis meses para cá, passou a privilegiar um espaço na agenda “para ter um “vale-day” com o marido a cada 15 dias, no geral. “O planejamento vai depender muito da semana, não temos um dia e horário rigidamente determinados. Depois de combinarmos, levamos nosso filho para passar o dia na casa de uma prima minha e ficamos com esse tempo a sós. Fez toda a diferença, deu um up na nossa relação”, afirma.
Quando o assunto é planejar na agenda o momento íntimo, a possibilidade de introduzir “elementos afrodisíacos” ganha destaque. Vestir uma lingerie especial ou aromatizar o ambiente com velas são as sugestões da sexóloga Mariah Prado, fundadora da comunidade feminina Share Your Sex. Segundo a especialista, são métodos que têm potencial de ativar o desejo e apimentar ainda mais a relação. “Passar a programar transas pode tornar a vida sexual do casal mais interessante, porque “eles estarão livres para experimentar coisas novas e instigar um ao “outro sem interrupções e preocupações. Um momento “de prazer que pode ser gostoso e intenso.”
Sem hora para acabar.
Fonte: O Globo