Moradores do Complexo da Penha levaram corpos para a Praça São Lucas, enquanto o governo do RJ contabiliza oficialmente 58 mortos na operação que também deixou quatro policiais mortos. Polícia Civil fará perícia para determinar relação das mortes com a ação.
Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, levaram pelo menos 72 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, durante a madrugada desta quarta-feira (29), no dia seguinte à megaoperação mais letal da história do estado.
Desde terça-feira (28), quando a ação policial ocorreu na Penha e no Complexo do Alemão, pelo menos 130 pessoas morreram.
Na terça-feira, o governo do Rio informou que 64 pessoas haviam morrido, incluindo quatro policiais civis e militares. No entanto, na manhã desta quarta, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) confirmou oficialmente 58 mortos, sendo 54 suspeitos de envolvimento com o tráfico, sem esclarecer a divergência em relação ao balanço anterior.
Segundo o secretário da Polícia Militar, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, os corpos levados à Praça São Lucas não constavam nos números oficiais. A Polícia Civil realizará perícia para determinar se essas mortes têm relação com a operação.
Os corpos, todos do sexo masculino, estavam na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os confrontos entre forças de segurança e traficantes. Muitos apresentavam ferimentos por arma de fogo, e alguns estavam com o rosto desfigurado.
O governador Cláudio Castro classificou a operação como um “sucesso” e afirmou que apenas os quatro policiais mortos são considerados vítimas. Sobre os corpos encontrados pelos moradores, ele disse que a contagem oficial considera apenas os que chegam ao Instituto Médico-Legal (IML). “A Polícia Civil tem a responsabilidade enorme de identificar quem eram aquelas pessoas. Eu não posso fazer balanço antes de todos entrarem”, afirmou.
Reconhecimento dos corpos
O ativista Raull Santiago, que ajudou a retirar os corpos da mata, afirmou que jamais presenciou algo parecido. “Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, eu nunca vi nada parecido com o que estou vendo hoje. É algo novo. Brutal e violento num nível desconhecido”, disse.
O objetivo do traslado dos corpos até a praça foi facilitar o reconhecimento por parentes. Moradores os deixaram sem camisa para mostrar tatuagens, cicatrizes e marcas de nascença, agilizando a identificação.
A Polícia Civil informou que o atendimento oficial às famílias para reconhecimento ocorrerá no prédio do Detran, ao lado do IML do Centro do Rio, a partir das 8h. Durante esse período, o acesso ao IML ficará restrito à Polícia Civil e ao Ministério Público, que realizarão os exames necessários. As demais necropsias, sem relação com a operação, serão feitas no IML de Niterói.

