Droga adulterada foi encontrada escondida em móveis e quadros; modificação química mascara odor e reação em testes. Lote teria como destino a Austrália.
A Polícia Civil do Amazonas (PC-AM) identificou, em uma mansão de luxo na Zona Oeste de Manaus, uma carga de cocaína negra capaz de iludir tanto testes rápidos quanto cães farejadores. Segundo a perícia, o entorpecente é quimicamente modificado para alterar cheiro e reação laboratorial, o que dificulta sua detecção.
A descoberta ocorreu após dias de monitoramento de um imóvel na Ponta Negra, área nobre da capital. Na primeira ação, os agentes encontraram 16 kg de cocaína branca. No entanto, anotações em um caderno apreendido no local faziam referência a “40 kg dentro de cadeiras e quadros”. Com a informação, a equipe retornou com cães farejadores.
Mesmo após nova varredura, os animais não reagiram ao material camuflado. Apenas com a desmontagem dos móveis indicados é que os policiais localizaram compartimentos falsos contendo a cocaína escura.
Segundo a perita Midori Hiraoka, da Polícia Civil, a cocaína negra recebe adição de carvão ativado e corantes, formando um composto que impede a reação química normalmente usada para identificar o entorpecente — que, nos testes, costuma gerar coloração azul. A substância também reduz o odor típico detectado pelos cães. “Eu não consigo identificar através da coloração e através do olfato nos cães”, explicou Hiraoka durante a análise laboratorial.

Por ser difícil de detectar, a cocaína negra pode alcançar um valor até dez vezes maior que a versão comum. De acordo com o Departamento de Narcóticos (Denarc), o carregamento apreendido teria como destino final a Austrália e chegou ao Brasil pela tríplice fronteira, vindo do Peru.
Casal de caseiros preso; proprietária nega envolvimento
Na ação, foram presos os caseiros German Alonso Pires Rodrigues e Jeyme Farias Batalha, ambos peruanos. German trabalha para a proprietária do imóvel há mais de dez anos. Em nota, a defesa dos dois afirmou ter solicitado um novo depoimento, mas não comentou sobre a droga encontrada.
A mansão pertence a Liege Aurora Pinto da Cruz, peruana, de 74 anos, que não estava no país no dia da operação. A defesa da proprietária disse, em comunicado, que ela está à disposição da polícia para colaborar com as investigações e que frequentava o imóvel apenas esporadicamente nos fins de semana. Também afirma que o local onde a droga foi encontrada é um anexo destinado à moradia do caseiro.

